terça-feira, 31 de maio de 2011

Seis Anos

Primeiro dia de trabalho com novo visual, claro que houveram vários comentários, mas um especialmente me fez pensar em como vejo a vida. Nunca entendi porque para as mulheres era impossível ter cabelos longos e simplesmente cortar, um corte curto, diferente, mudar, quando isso para mim é tão fácil. Nunca entendi porque completar trinta anos é quase uma vergonha. Nunca compreendi porque não posso sair de casa sem batom, muito menos porque devo passar cinco tipos de creme por dia após o banho e um especial “para a idade” antes de dormir. Nunca entendi porque deveria estar nos padrões da moda, dentro do imposto pela mídia. Muito menos porque são necessários oitenta pares de calçados para combinar com uns cem cintos e cinquenta bolsas, quando posso usar apenas um de cada por dia.... E, para mim, confesso, calçado deve ser confortável, bolsa prática, deixar as mãos livres e cinto, só se a calça estiver caindo.
Então, um comentário em especial fez com que pensasse em tudo isso e chegasse a uma conclusão. Uma pessoa muito querida elogiou a maneira como o novo corte me rejuvenesceu e com medo de que interpretasse isso como “parecia velha antes” completou: não que você... Interrompi, sim, sim, sim, entendi, está tudo bem, nunca interpretaria dessa forma. Mas se houve o complemento, EU não interpretaria assim, mas muitas mulheres sim, o que seria isso? Um complexo? Não sei!
Sei apenas que a idade e o completar dos anos nunca foram um tormento, pelo contrário, algo desejado que representava o quão madura estava ficando. Então lembrei que o completar seis anos do meu filho foi algo pavoroso, não exteriorizei porque não sabia como explicar, mas em mim desencadeou uma verdadeira crise existencial, uma crise de idade. Não por eu ter vinte seis, mas por ele já ter seis!
Consegui finalmente compreender porque isso me apavorou tanto. Simples: como posso ser responsável por alguém de seis anos se penso exatamente como ele? Como posso cuidar de alguém com seis anos se me sinto como ele? Afinal, ainda acredito no amor, no sonho, acredito que posso ser feliz, que vou encontrar meu príncipe encantado, que ele será perfeito para mim. Acredito que as pessoas são boas, que a humanidade evolui espiritualmente, que as pessoas compartilham bons valores. Acredito que o mundo pode ser melhor, que ainda vou ser astronauta e ver se realmente a Terra é como na televisão, acreditei, sem entender, que os erros de gravação de Toy Story eram erros de verdade. Juro, me questionei que tipo de profissional erraria dessa forma, mas acreditei. Acredito que se fizer medicina poderei ser boa e ajudar muitas pessoas, acredito que vou fazer psicologia e ajudar ao mundo ser mais feliz e às pessoas se relacionarem melhor consigo. Acredito que vou passar em um bom concurso, morar no litoral e que depois de um dia exaustivo não estarei cansada para dar uma passadinha na praia, molhar o pé na água, ouvir o mar e sentir a areia sair vagarosamente de baixo dos meus pés e, então com as energias refeitas chegar em casa e ser a mãe e esposa perfeita. Acredito mais, que a praia que eu for será limpa, porque as pessoas aprenderão a ser educadas e não jogarão lixo no chão. Acredito que o banho de chuva faz mais do que molhar o corpo. Acredito até que um dia Papai Noel vai dizer que fui boa menina o ano todo e que mereço o presente que pedi, que desejei.
Tenho medo da vida adulta, de decidir para onde ir, o oque fazer, que filme assistir, o que comer. Tenho medo de escolher a grade para casa, medo de contratar um mau pedreiro, medo de viajar e chegar num lugar estranho e assustador e não ter ninguém para me receber. Tenho medo de comprar coisas que custem mais de cem reais. Tenho medo de não ter bons amigos. Tenho medo de ter vinte seis anos e ser apenas uma criança de seis. Tenho medo desse tempo todo ter vivido uma fantasia de modo paralelo na minha mente e que tenha esquecido de crescer no mundo. Ou apenas tenho medo de crescer realmente e descobrir que as nuvens não são aquarelas, que não existe um planeta de chocolate, que nem todas as pessoas têm bom coração e que a gente não vale pelo que é, mas sim pelo que tem. De descobrir que no litoral o sol não brilha todos os dias, que astronauta usa fralda para decolar porque perde o controle das esfíncter.
Acho que tenho medo de crescer e descobrir que por mais bem sucedida que seja, e por mais que mereça isso, não vou conseguir usar Chanel, tailleur e maquiagem todos os dias.
Enfim, acho que tenho seis anos, como meu filho, minha preocupação é: quem cuida de nós?


segunda-feira, 30 de maio de 2011

A desconstrução do EU



Hoje não tem sonhos. Só escuridão.
Idealizar o amor é errar no desespero de acerto. Idealizar o amor é buscar em alguém a companhia e compreensão que deve existir, simplesmente existir, sem necessidade de ninguém.
O próximo passo é fingir felicidade quando mal consegue segurar as lágrimas dentro de si. O silêncio não é sinal de maturidade, mas sim uma amarra para evitar que a angústia fale exteriorizando as mágoas.
Perde-se a espontaneidade, perde-se a motivação, perde-se o sentido e por fim, se perde.
A partir daí surge apatia, onde o idealizador sente-se zero, sem função, sem expressão, sem raiva, sem o amor e finalmente sem si mesmo.
É a desconstrução do EU, do ego, da identidade, da personalidade, um momento doloroso. A tristeza está intermitente nos olhos.
Esse é o momento de optar, muitas escolhas são possíveis, mas uma delas é reconstruir o EU, o ego e a personalidade, mas com maturidade, com crescimento espiritual com aceitação. É o momento em que o silêncio representa algo especial. É o momento em que ceder opiniões em divergências representa crescimento. É o momento que se tem vontade de expandir horizontes, mudar, de vida, de lugar, de destino ou mesmo de cabelo. Exteriorizar que o interior não é o mesmo.
Então volta o amor. Maduro, grande, forte, consciente. O amor! Que doa, mas que não explora, que não dói, que na ausência não gera ansiedade, porque o EU bem definido tem sua maturidade em si, não precisa da presença e aprovação para existir e ser feliz.
A felicidade torna-se algo maduro, espetacularmente grandioso. Pura e simples sem uma razão para existir, somente está ali pela presença de espírito.
E novamente o ego se inflama, idealiza e uma nova desconstrução inicia, um novo crescimento para um surgimento de um EU ainda melhor. Aceitar essa forma metamórfica de viver é aceitar o crescimento espiritual. Aliás, provavelmente a única forma de estar em movimento, não estagnar e simplesmente passar pela vida!
E então sair da escurão para sonhar!

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Estar Só Não é Sinônimo de Solidão


Quando alguém diz “preciso falar com você” com certeza não vai falar coisa boa, se não só falaria. Então da última vez que ouvi essas palavras, elas ecoaram no meu ouvido e em segundos meu corpo estava diferente, o estômago contraído como se houvesse levado um soco, a visão meio potencializada, os sons mais vagarosos e graves. A próxima coisa que ouvi foi: Jaque, eu resolvi voltar para SP. Estremeci e sem saber como reagir, não reagi.  Quis fugir, quis sumir, quis que minha vida fosse perfeita como é no meu imaginário. Mas a realidade é outra, e é conseqüência dos nossos atos.
Apesar de minha única vontade ser, naquele momento, deixar de existir, tentei manter a razão para entender, compreender que no amor as coisas são assim e algumas vezes partir é necessário. A razão entende perfeitamente. Mas a emoção quer se jogar no chão e chorar, ficar ali até definhar e sumir. Chorar eu chorei, como boa chorona que sou, chorei a tarde inteira na verdade.  Vivi todas as situações que se vive no momento de dor: a incredulidade total, a negação, raiva, aceitação, negação de novo, vontade de desaparecer, inconformismo da escolhas erradas, mais raiva, medo, medo e medo. O medo merece comentário especial, medo da solidão, medo de ficar só, medo de não conseguir fazer tudo que era feito por ele para me ajudar, medo de não conseguir pagar as contas, mas principalmente medo de sofrer, de sofrer de novo. Teve também a culpa, a culpa por permitir uma aproximação, que nesse caso causa sofrimento a terceiros, envolvidos inocentemente na história. Mas como é impossível saber se terá sucesso sem tentar, então jogar é necessário, perder também faz parte do jogo, isso é preciso aceitar. Mesmo que nem sempre seja justo.
Depois do comunicado foram os dias em que ele esteve mais perto de ser o marido que eu esperava e muito provavelmente foram também os dias que mais me aproximei de ser a esposa que ele queria. Mas quando um rompimento é iminente, não há mais o que ser dito, a decisão está tomada. Ainda assim não sabia ao certo como me sentir, oscilava entre raiva e aceitação. Com algumas lágrimas, claro. E, então a partida.
O “pós ida” pensei que seria dolorido, solitário e que teria que me adaptar aos poucos. Foi com grande estranheza que percebi que estar só não significa estar solitário e que o inverso também é verdade. Foi então que descobri que é melhor a certeza de que ninguém vai chegar do que a ansiedade de não saber a que horas isso vai acontecer. Foi então que descobri que sair sozinha para caminhar é muito melhor quando não se tem companhia, do que sair sozinha porque quem deveria te acompanhar não quis ir. Descobri que tomar chocolate quente sozinha quando se é sozinha, tem sabor mais doce do que chocolate quente estando só podendo estar acompanhada. Descobri prazer em pedalar com as crianças, percebi que os filmes ficam com a mesma cor, a programação da televisão é a mesma e que os sonhos continuam.
Descobri em mim uma maturidade inesperada, um prazer em ter vivências inéditas. Um prazer em ter MINHAS vivências. Nessa nova maturidade recém descoberta encontrei o prazer de ficar só. O prazer de não ser solitária. Isso é algo bastante interessante para quem já viveu a intensidade da solidão tendo companhia. E agora busco com uma certa ansiedade as vivências que me eram permitidas mas nunca aproveitadas.
É certo que toda essa reflexão não me deixa mais próxima de saber que sou e qual meu papel no mundo, mas me faz perceber que mesmo não sabendo muito bem quem sou, nem qual a função da minha existência, posso estar feliz. Acabo percebendo que essa busca é muito interessante, talvez mais do que a própria descoberta.
E tudo isso acontece depois da decisão de outra pessoa.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Uma Reflexão de Fernando Pessoa

Refletindo sobre o mundo, sobre humanidade, vida, filhos, história, natureza e pensando em como escrever sobre tudo sem me perder em idéias, e até com um pouco de medo de me perder em meu mundo e não conseguir mais encontrar o caminho para a realidade, encontrei um poema do Fernando Pessoa. Que me fez lembrar do dia que esperava a circular no ponto da escola dos meus pequenos e vi as nuvens.  Não pareciam algodão, não pareciam doce, pareciam aquarela, pintadas pelas mãos experientes de algum pintor e técnica que fiquei instigada a conhecer.  Lamentei profundamente não estar com a máquina fotográfica, lamentei mais ainda não ser poeta para poder criar um poema para aquele momento e aquelas nuvens. Então, me desliguei de todas as preocupações e foquei unicamente as nuvens e as sensações que elas me causavam, por momentos (pequenos) negligenciei olhar aos meus filhos, para poder simplesmente eternizar aquela imagem que com o passar dos minutos começou a rosear com o pôr do sol. Infelizmente sei que esquecerei e que nunca conseguirei transmití-la ou recriá-la. Então lendo um pouco de Fernando Pessoa entendi que o que vale, não é entender, compartilhar ou explicar, mas sim vivenciar esse momento único e ter essa sensação. Mas especialmente, não porque as nuvens pareciam pintura, mas sim porque são nuvens e porque cada uma tem beleza especial e pode me propiciar essa sensação novamente, basta olhar para elas com os mesmos olhos que olhei para as outras.




O Meu Olhar

 (Fernando Pessoa)

Guardador de Rebanhos
O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de, vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...

Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...

O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que amar ...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Responsabilidade dos Pais

Nessa semana dois fatos me levaram a refletir referente a maternidade/paternidade e responsabilidade. Na Rua Borges de Medeiros, em direção a Rua Nossa Senhora,Toledo-Pr, passado o 39º Batalhão da Polícia militar. Bem cedo, por volta das 7:15h. Estávamos indo, a família toda ao concórdia, onde os filhos estudam, observei uma crianças, aproximadamente uns 12 anos, não mais do que isso com certeza, que levava (deduzi, para creche e escola) um bebê, não sei precisar a idade dele, e outra criança de aproximadamente 05 anos. Questionei meu marido: cadê os pais dessas crianças??? Cabe a uma criança de aproximadamente 12 anos ser responsável por duas outras??? E, principalmente, se por alguma fatalidade acontecer algo, quem terá responsabilidade na situação??? Meu marido, como sempre, não fez menção de que ouviu meus comentários e eu fiquei com essas perguntas martelando na cabeça. Lembrei também de um dia que estava indo trabalhar a pé, e vinham em direção oposta dois meninos de bicicleta, provavelmente iam para escola, o mais novo ao lado da calçada e o mais velho ao lado dele. Me pareceu muito responsável, ainda assim um carro passou, buzinou assustando os dois, e uma mulher brigou com eles para terem mais cuidado. Eu fiquei com interrogações: novamente onde estavam os pais que deveriam estar acompanhando eles??? E porque buzinaram??? Poque a mulher chamou a atenção??? Se ao meu ver eles estavam corretos, claro, não em fila indiana como é adequado quando anda-se de bicicleta, mas o mais velho estava em posição de proteção do mais novo. E, não é muita responsabilidade para uma criança cuidar de outra no trânsito?????
Esses questionamentos pulsaram muito forte na minha mente, na verdade pulsaram no ritmo do meu coração acelerado. Exagerada? Metafórica? Pode ser, mas isso porque o pior não aconteceu. Pelo menos não hoje, mas confesso, estou com medo de dirigir em horário que as crianças vão pra escola/creche. Isso porque estava levando minha filha à creche, meu marido tava junto, como no dia anterior tinha tido uma forte crise de enxaqueca, estava mais lenta, dirigindo em velocidade moderada, menor que a indicada para a via, por isso, passado o batalhão da polícia militar um carro se colou tão depressa na minha traseira, que me deu claustrofobia, me senti pressionada, mas não podia dar lado porque tinha uma ciclista, então ele que esperasse um pouco, assim que passei pela ciclista, abri para a direita e deixei ele passar, logo a frente havia outro ciclista, menino, 12 ou 13 anos, e um outro carro apressado atrás de mim, permaneci na direita, para ele passar e reduzi pra não me aproximar muito da criança que poderia não ter me visto, mas nesse instante o menino começou a direcionar para a pista, na minha frente, joguei para a esquerda então percebi que ele perdeu completamente o equilíbrio e que tinha um bebê na cadeirinha, como já disse meu coração disparou, a enxaqueca voltou, e foi só um susto, mas poderia ter sido mais uma de tantas fatalidades. É bem provável que ele tenha se desequilibrado por estar com a cadeirinha de bebê, quem já andou de bicicleta nessas condições, sabe que o peso do bebê torna mais difícil o equilíbrio, essa era uma das reclamações do meu filho, você não anda de bicicleta comigo, mas eu não sentia segurança e sempre tive medo desse tipo de acidente. Agora minha pergunta é outra: se essa criança tivesse caído na minha frente e eu atropelado, mesmo prestando assistência, de quem seria a responsabilidade, dos pais que deixaram duas crianças sozinhas no trânsito, ou minha que tive a infelicidade da estar dirigindo o carro?? Mesmo devidas responsabilidades apuradas, quem ficaria responsável pelas sequelas psicológicas minha e das crianças?? Que assistência receberíamos???
Posso dizer agora que estou com medo, com muito medo de dirigir, porque se houver um acidente, com adulto, onde fica claro a negligência ou mesmo seja um sinistro, a situação psicológica é uma, mas com uma criança, a responsabilidade é outra e eu não posso ser responsável por todas as crianças desassistidas que encontro em meu caminho.
Nesse caso cabe uma crítica: fácil ter filhos, onde os mais velhos assumem a função de pais. Não estou dizendo que não devem ajudar em casa com os cuidados, devem sim, devem ter responsabilidades e compromissos, mas no trânsito; no trânsito devem estar acompanhados de adultos. Quero uma campanha: crianças não podem ser responsáveis por outras crianças no trânsito, essa é função do adulto, pai, mãe ou responsável. E depois, se algo acontece, não adianta chorar, esse tipo tragédia já é prevista. Por mais educados e responsáveis que sejam os filhos mais velhos, são apenas crianças e não têm a experiência do adulto para reagir, para se cuidar, ainda mais para cuidar de outras crianças menores, que podem inclusive não obedecer o mais velho. Não vale a pena o risco, estamos falando de mais de uma vida. Vale a pena os pais assumirem sua responsabilidade de pai e mãe a acompanhar seus filhos à escola. Falo pela vida das crianças que estão desamparadas, sozinhas ao risco e sem escolhas. Falo isso, porque sei que as crianças precisam de acompanhamento, o meu não vai do carro para dentro da escola sozinho, sempre pede para ser acompanhado, isso porque ele se sente seguro comigo, essa é uma das funções dos pais, dar segurança, proteger, cuidar dos filhos, além claro de educar, amar... Mas isso já é outra história.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Maternidade Contemporânea


Hoje senti saudade de um tempo que não vivi. Pelo menos não vivi no papel que gostaria de ter vivido. Senti saudade de ser mulher; não feminista, empresária, independente, dona do meu nariz. Senti saudade de ser mulher, mãe, dona de casa. Pode ser incoerente nos tempos atuais uma mulher querer ser apenas mãe e dona de casa considerando infinitas alternativas. Li outro dia num blog um questionamento a respeito de quem foi a mulher que teve a infeliz ideia de lutar por direitos iguais em relação aos homens. Isso valeu uma reflexão de vários dias. E especialmente nesses últimos dias esse pensamento me veio à tona com tal intensidade que valeu escrever sobre o tema.
Na verdade, a mulher da atualidade, e de classe baixa como eu, nunca deixou de ser dona de casa. Ainda lava, passa, cozinha, limpa;  com a ajuda do marido; sim, mas se ele trabalha mais, ele ajuda menos. Ainda é mãe dedica, amamenta, troca fraldas, pleiteia vaga em creche, dá banho, leva ao médico, ensina a usar o banheiro, escovar os dentes, conta histórias e não caberiam aqui todas as atividades de mãe; com a presença e auxílio efetivo do pai, no meu caso. E acreditem, essas duas atividades somadas ao trabalho de fazer mercado, uma atividade física, cuidar com mais atenção da própria saúde, ocupa todas as horas de todos os dias da semana.
Agora agregue a tudo isso, porque a maioria das mulheres tem que conciliar, uma carga horária de trabalho formal de 40h semanais. Sim, isso desestrutura toda nossa vida. Nos deixa fora da ordem natural das coisas. Porque se estou oito horas por dia no meu emprego, não estou fazendo as atividades citadas e principalmente, não estou cuidando dos meus filhos. Dois. Menino, 6 anos, TDAH predominante desatendo. Menina, 3 anos, TDAH predominante hiperativa com agravante de transtorno desafiante opositor. Período matutino, uma senhora cuida, com amor, é bem verdade, mas sem a autoridade que o caso necessita. Período vespertino, escola pública, com o acompanhamento necessário. Mas com horário que não condiz com o meu horário de trabalho, e ainda mais longe de adequar ao horário de trabalho do pai.
Na escola aquela pressão, você não conhece uma criança maiorzinha que eles podem ir embora juntos no fim da tarde...  O quê???? Deixar meus filhos irem caminhando para casa, numa avenida que não tem calçada em toda a extensão, cuja velocidade é de 60Km/h com uma criança maiorzinha e sem um adulto responsável para acompanhar??? Isso me soou meio loucura, ou completo descaso com a integridade deles. Outra sugestão: contrata uma Táta para buscar eles até você chegar em casa. As pessoas não acreditam, mas trabalho porque preciso ajudar arcar as despesas de casa, já pago uma Táta para cuidar pela manhã, não tenho condições de pagar outra, ou mais um pouco para a mesma por causa de 15 min. Então pensei numa solução razoável: conversar com o superior imediato e pedir uma alteração de 15 min no meu horário: faço 15 minutos a mais no período da manhã para sair 15 minutos mais cedo no período da tarde. Ele nem fez questão de ouvir as minhas justificativas, disse que a filha dele estudava em escola pública e lá tem alguém pra cuidar, que bom pra ele, porque na escola dos meus filhos não tem. De qualquer forma fiz o protocolo e deixei rolar, está pendente ainda, conversei na secretaria de recursos humanos, pelo menos essa secretaria fez juz ao nome, me ouviram, sei que nesse caso se for indeferido, pelo menos foi cogitado a possibilidade e pensado na melhor solução para a administração e para mim.
Diante dessa situação pensei, perfeito mesmo seria como na época em que eu era criança: onde um responsável trabalhava e recebia o suficiente para o sustento da casa, o outro era responsável pelo bom andamento dela, educação das crianças, encaminhar eles para uma atividade extra. Um trabalho em equipe. Aqui, vale lembrar que normalmente o homem provia os recursos financeiros e a mulher organizava a casa, mas essa não precisa ser a única opção. Gostaria de ter condições nesse momento de parar de trabalhar para poder cuidar bem da casa, e dar o respaldo necessário às crianças. Ou ter um salário que fosse suficiente para que o pai ficasse responsável por essas questões. Como nenhum dos casos acontece, vou levando minhas funções: doméstica (adoraria terceirizar), mãe (adoraria ser integralmente) e trabalhadora. Mas como mera humana, não faço com total eficiência nenhuma delas, frequentemente preciso me ausentar da função de trabalhadora, porque a função de mãe exige acompanhamento e, isso nem sempre é compreendido. Enquanto atuo em todas as frentes observo que é quase um pecado mortal uma mulher dizer que gostaria de ser mãe e dona de casa. É como se fosse uma traição à raça feminina. Tudo bem, não são funções remuneradas, não se você atuar na sua casa, porque se atuar na casa dos outros, ou seja, for a dona de casa alheia, a cuidadora dos filhos alheios, é remunerado, não como deveria, mas é. Agora se você for a cuidadora dos seus filhos a dona de casa da sua casa, não é remunerado, mas não menos digno. Penso que é excelente poder educar seus filhos, ensinar os limites, as regras da casa, a necessidade de adaptação para o convívio social conforme os conceitos de certo e errado seus e principalmente passar seus valores. Mas, essa não é minha realidade, então preciso me conformar que pelo período da manhã quem manda em casa é minha menina, 3 anos, que no período vespertino eles tem a educação formal necessárias às crianças e por um curto período eu, como mãe, e o pai ensinamos o que pensamos ser o melhor caminho para eles viverem em sociedade.  Mas ainda me pergunto, por que foi mesmo que foram queimados os sutiãs??? Por que foi que se exigiu direitos iguais??? Iguais a quê se os gêneros são totalmente diferentes.
Devo lembrar que nem todas as mulheres são como eu, tiveram filhos nova, e com planejamento não tão eficientes. Existem mulheres que planejam uma carreira e conseguem manter, depois da carreira estruturada planejam os filhos e têm a estrutura da terceirização necessária: doméstica, babá... Isso provavelmente ocorre após aos 30 anos, quando o corpo já não está na melhor idade para a maternidade, mas ainda se pode considerar um bom período. Bem, ótimo, consegue se ter a carreira dos sonhos, e engravidar, se a gravidez ocorrer bem, ainda se mantém o trabalho por mais um tempo, caso contrário, já iniciam as dificuldades, atestados, pressões. Depois disso, qualquer mãe que se preze deseja acompanhar o filho nas consultas mensais, quem já é mãe sabe que até completar uma certa idade, em média os 3 anos, as crianças tem resfriado, bronquite, alergia, otite, catapora, febre sem nenhum motivo aparente, e tudo isso exige cuidado integral, lá se vão mais dias da promissora carreira. Depois desse período, qualquer profissional está defasado. Ou não se dedicou ao trabalho e é necessário aperfeiçoamento, ou delegou muito cuidado importante dos filhos a terceiros. Lembro que existe o marido que pode ajudar, acompanhar em consultas, dar remédio, colocar dormir. Mas com toda a sinceridade, qual é a mãe que vai querer ser lembrada pelos filhos por ter mantido uma excelente carreira enquanto eles eram crianças, diferente da maioria das mulheres que acabam deixando isso de lado, ao invés de ser lembrada por ter colocado o filho no colo aconchegante enquanto esperava o remédio fazer efeito, melhorar a otite e o filho conseguir dormir?  Esses questionamentos seriam interessantes em um debate, com opiniões diversas.  Assim poderia ter outros pontos de vista a respeito da maternidade contemporânea e como tentar ser mais feliz como profissional e menos mãe.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Ansiedade

Tinha pensado em escrever algo especial sobre o tempo e sobre questionamentos referente a reencarnação. Mas levei um grande susto ontem quando ligaram dizendo "para não me preocupar" mas o Henrique tinha sofrido um pequeno acidente na escola.
Primeiro, se não precisasse me preocupar não teriam me ligado. 
Segundo, dizer para não se preocupar é igual dizer para não pensar em elefante, já foi!
Então, depois de buscar ele na escola, tentar consultar, tentar levar no dentista dele, consegui um atendimento particular na minha dentista de infância. Ainda bem que foi apenas uma lesão leve e os dentes de leite ficaram "moles", mas como iriam cair mesmo, tá tudo bem.
Rumo à casa, para descansar e medicar, a Amanda, que frustrada com a atenção que o Henrique estava recebendo, ficou nervosa, foi brigar comigo, errou o pé para subir o meio fio e machucou a mão, ficou com um espinho na palma. Maior drama! recebeu a devida atenção e pegamos a circular. Como estava cansada, ela dormiu no meu colo, aproximadamente as 16h. Isso por sí só já seria fora do normal. Chegamos em casa, coloquei ela na minha cama e dediquei especial atenção ao Henrique. As horas foram passando e nada da Amanda acordar. Comecei a ficar ansiosa novamente, preocupada, tocar ela para ver se não estava febril, mexer para ver ela resmungar e concluir que estava tudo bem. Mas ainda assim meu coração palpitava ansioso. Engraçado mesmo, quando ela está aprontando todas eu peço para ela reduzir o ritmo, quando ela tá descansando, fico preocupada, algo pode estar errado!
Por volta das 20:30h ela acordou, sentiu um cheiro bom de comida, rsrsrs, jantou, escovou os dentes e dormiu novamente. Eu fiquei imaginando o que foi que esgotou tanto as inesgotáveis energias da Amanda.  Hoje pela manhã as coisas voltaram ao "normal": o Henrique depois de levantar para ir à escola voltou deitar três vezes. A Amanda só parou de miar depois que viu que iria usar o casaco novo de barbie girl (totalmente rosa).

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Sobre Mim

Difícil escrever porque há várias de mim em mim. Uma delas cresceu orgulhosa suprindo com capacidade intelectual a vivência social da qual fui privada e achando que dessa fora era melhor que as outras pessoas. Me envergonho profundamente disso e frequentemente flagro a necessidade desse orgulho ser mantido através da admiração da minha “inteligência”. Outra é uma criança amedrontada diante da vida que pensava que com vinte anos saberia exatamente o que fazer, aos vinte não sabia, então acreditava que aos trinta não haveria mais insegurança e medo, os trinta estão chegando e me sinto tão insegura e amedrontada quanto quando viajei de ônibus pela primeira vez sozinha, naquela ocasião meu pai esperava um telefonema dizendo que estava tudo bem, aos trinta, ninguém espera telefonema meu só porque se está tendo uma experiência inédita. Outra tentou ser a filha perfeita para os pais, mas isso só acontecia na minha cabeça, porque como criança era carente, manhosa, chorona e questionava tudo (isso não mudou muito), ou seja, dava um trabalho danado pra ser criada, na adolescência pensava que era capaz de assumir todas as consequências dos meus atos, então mesmo limitada pela educação rígida resolvi decidir por mim, fiz (ainda faço) muitas bobagens, mas sim, assumi todas as consequências, elas pesam até hoje e novamente o orgulho fez eu pensar que por isso sou uma pessoa melhor que muitas com quem convivo. Mas foi justamente essas bobagens que fizer eu descobrir que minha família é como muitas, está do meu lado para o que der e vier. Finalmente a que não costumo exteriorizar e quando faço é com muito cuidado (que acabei de abandonar) porque ela tem vontades e desejos que não são aceitos de um modo geral é a parte de mim que quer revoltar, “chutar o balde e mandar essa porra toda à merda”, que quer fazer diferente, que quer amar e não sofrer, que quer usar drogas, que quer viajar sem destino, sem responsabilidade, sem compromisso; é como um leão, está sempre rosnando na minha mente mas mantenho enjaulada, alimentando apenas o suficiente para não morrer de fome, mas não com alimento suficiente para que tenha força para fugir. Essa parte de mim, como a vida, também me amedronta, mas por vezes penso que é a mais interessante que existe, a que realmente teria alguma história emocionante para compartilhar com o mundo.