Primeiro dia de trabalho com novo visual, claro que houveram vários comentários, mas um especialmente me fez pensar em como vejo a vida. Nunca entendi porque para as mulheres era impossível ter cabelos longos e simplesmente cortar, um corte curto, diferente, mudar, quando isso para mim é tão fácil. Nunca entendi porque completar trinta anos é quase uma vergonha. Nunca compreendi porque não posso sair de casa sem batom, muito menos porque devo passar cinco tipos de creme por dia após o banho e um especial “para a idade” antes de dormir. Nunca entendi porque deveria estar nos padrões da moda, dentro do imposto pela mídia. Muito menos porque são necessários oitenta pares de calçados para combinar com uns cem cintos e cinquenta bolsas, quando posso usar apenas um de cada por dia.... E, para mim, confesso, calçado deve ser confortável, bolsa prática, deixar as mãos livres e cinto, só se a calça estiver caindo.
Então, um comentário em especial fez com que pensasse em tudo isso e chegasse a uma conclusão. Uma pessoa muito querida elogiou a maneira como o novo corte me rejuvenesceu e com medo de que interpretasse isso como “parecia velha antes” completou: não que você... Interrompi, sim, sim, sim, entendi, está tudo bem, nunca interpretaria dessa forma. Mas se houve o complemento, EU não interpretaria assim, mas muitas mulheres sim, o que seria isso? Um complexo? Não sei!
Sei apenas que a idade e o completar dos anos nunca foram um tormento, pelo contrário, algo desejado que representava o quão madura estava ficando. Então lembrei que o completar seis anos do meu filho foi algo pavoroso, não exteriorizei porque não sabia como explicar, mas em mim desencadeou uma verdadeira crise existencial, uma crise de idade. Não por eu ter vinte seis, mas por ele já ter seis!
Consegui finalmente compreender porque isso me apavorou tanto. Simples: como posso ser responsável por alguém de seis anos se penso exatamente como ele? Como posso cuidar de alguém com seis anos se me sinto como ele? Afinal, ainda acredito no amor, no sonho, acredito que posso ser feliz, que vou encontrar meu príncipe encantado, que ele será perfeito para mim. Acredito que as pessoas são boas, que a humanidade evolui espiritualmente, que as pessoas compartilham bons valores. Acredito que o mundo pode ser melhor, que ainda vou ser astronauta e ver se realmente a Terra é como na televisão, acreditei, sem entender, que os erros de gravação de Toy Story eram erros de verdade. Juro, me questionei que tipo de profissional erraria dessa forma, mas acreditei. Acredito que se fizer medicina poderei ser boa e ajudar muitas pessoas, acredito que vou fazer psicologia e ajudar ao mundo ser mais feliz e às pessoas se relacionarem melhor consigo. Acredito que vou passar em um bom concurso, morar no litoral e que depois de um dia exaustivo não estarei cansada para dar uma passadinha na praia, molhar o pé na água, ouvir o mar e sentir a areia sair vagarosamente de baixo dos meus pés e, então com as energias refeitas chegar em casa e ser a mãe e esposa perfeita. Acredito mais, que a praia que eu for será limpa, porque as pessoas aprenderão a ser educadas e não jogarão lixo no chão. Acredito que o banho de chuva faz mais do que molhar o corpo. Acredito até que um dia Papai Noel vai dizer que fui boa menina o ano todo e que mereço o presente que pedi, que desejei.
Tenho medo da vida adulta, de decidir para onde ir, o oque fazer, que filme assistir, o que comer. Tenho medo de escolher a grade para casa, medo de contratar um mau pedreiro, medo de viajar e chegar num lugar estranho e assustador e não ter ninguém para me receber. Tenho medo de comprar coisas que custem mais de cem reais. Tenho medo de não ter bons amigos. Tenho medo de ter vinte seis anos e ser apenas uma criança de seis. Tenho medo desse tempo todo ter vivido uma fantasia de modo paralelo na minha mente e que tenha esquecido de crescer no mundo. Ou apenas tenho medo de crescer realmente e descobrir que as nuvens não são aquarelas, que não existe um planeta de chocolate, que nem todas as pessoas têm bom coração e que a gente não vale pelo que é, mas sim pelo que tem. De descobrir que no litoral o sol não brilha todos os dias, que astronauta usa fralda para decolar porque perde o controle das esfíncter.
Acho que tenho medo de crescer e descobrir que por mais bem sucedida que seja, e por mais que mereça isso, não vou conseguir usar Chanel, tailleur e maquiagem todos os dias.
Enfim, acho que tenho seis anos, como meu filho, minha preocupação é: quem cuida de nós?