Hoje recebi uma carta.
Sim, em plena era tecnologia, recebi uma carta.
E lembrei com nostalgia da emoção que se sentia enquanto esperava a chegada de um envelope. Normalmente trazendo boas notícias ou lindas declarações de amor.
O que levou a troca de cartas, claro não representa algo bom, representa a distância de uma pessoa amada que se faz presente através de papel e letra. O marido partiu, o amor persistiu, insistiu em existir mesmo há kilometros de distância e, a gente num “vamos levando e ver em que vai dar” manteve contato.
Logo pode-se observar que, como tudo na vida, tem seu lado positivo. Não tenho síndrome de Poliana, mas também não consigo ficar sofrendo pelo inevitável e pelo que não depende de mim. Então, mesmo a distância tem suas vantagens.
Uma delas é a sensação gostosa de receber carta de alguém especial. E garanto que é muito melhor do que receber email encaminhado a toda a lista.
Outra descoberta interessante, é como as crianças podem usar isso como motivação, meu filho está na fase de alfabetização, começando a ler, quando sugeri à ele escrever uma carta ao pai distante, o brilho nos olhos doces e apaixonantes dele serviram de resposta. Ele complementou o olhar com um comentário: preciso aprender a ler, assim quando chegar a carta dele, eu mesmo posso ler a minha. E o tradicional sorriso sonhador.
A Amanda, que tem apreendido as letras, chegou muito feliz escrevendo o nome dela por todo canto, todo canto mesmo: nas gotículas de água na parede do banheiro, no chão da casa com giz, na parede com lápis, no ar com os dedos. Foi necessário direcionar tanta energia e conhecimento, assim, sugeri que também escrevesse ao pai. Mais do que empolgada soletrou as letras do nome do pai e escreveu, não só seu nome, mas o do pai também.
E, após colocar em palavras as emoções, prometi colocar no correio as cartas. Que chegou rapidinho e, que tenho certeza, também emocionou.
Em receber uma carta está embutido um peso emocional, além de energias de amor, tem também uma emoção precedente. Primeiro se teve todo o sentimento de escrever, mandar, a espera para chegar. Concluído esse momento, vem aquela ansiedade gostosa de esperar a resposta, de receber a energia, quando chega, a sensação de valorização, com tantos meios disponíveis de manter contato, trocar carta ainda é gesto de doação e amor.
Por fim, eu amo a tecnologia, adoro a velocidade com que se é possível receber e mandar notícias, compartilhar informações, mas não abro mão de sensações nostálgicas e maravilhosas que gestos antigos como enviar correspondências podem nos propiciar.