quarta-feira, 17 de outubro de 2012

As Coisas que Vi, Que via Pela Televisão




   Faroeste Caboclo



Faroeste Caboclo é a inspiração para esse texto, calma, podem ficar tranquilos, não seria abusada o suficiente para escrever sobre a música toda, mas apenas um pedaço em especial que toda vez que ouço, independente da situação me remete a minha trajetória da infância até aqui, até hoje.

Ele queria sair para ver o mar
E as coisas que ele via na televisão
Juntou dinheiro para poder viajar
De escolha própria, escolheu a solidão

A primeira coisa que tenho lembrança de querer ver e que via frequentemente pela televisão é o Instituto Butantã. Lembro da vez que juntei toda minha coragem de criança e após ver uma reportagem sobre as serpentes perguntei ao meu pai se algum dia ele me levaria lá. A resposta foi um não bem sonoro acompanhado de “isso fica em São Paulo”. Neste instante sem fazer ideia de que isso aconteceu, meu pai plantou a semente do meu sonho em morar em São Paulo. Desde então quando via uma reportagem sobre alguma exposição de algum artista eu sentia um calor estranho em meu coração, uma que tenho especial lembrança de querer ter visto foi a exposição O Fantástico Corpo Humano. Essa tive a oportunidade de ver e deixei passar, mas na próxima....


Lembro de querer ver a praia, bem essa eu vi antes de mudar de cidade. Mas continuo querendo ver faz parte dos meus planos para o verão.
Por muitas vezes pensei que era injustiça uma pessoa que é completamente apaixonada por cinema nascer numa vila que fica próxima de uma cidade que não tinha cinema. Mas como lamentar não resolve nada, eu sonhava, sonhava com cinema, exposição, vida própria, sem manipulação, independência.
A primeira oportunidade surgiu aos 17/18 anos quando conheci um amor pela internet da Grande São Paulo. Por pura submissão ou destino, ou sei lá deixei a oportunidade partir, passei a viver uma vida conformada, pelo menos externamente, na cidade, não mais na vila. Tinha dado um passo.
Já conseguia ir ao cinema, ver o lago, comer cachorro quente, mas isso ainda não era o Instituto Butantã.
Eu acredito fielmente na lei do retorno e que as forças universais conspiram atraindo o que mais deseja. E, em um momento da minha vida onde já havia uma certa independência psicológica surgiu um amor pela internet que morava na Grande São Paulo. Um não, incrivelmente o mesmo!
Sem sobras de dúvidas que essa oportunidade eu não perderia por nada, jamais deixaria passar a chance de viver um amor e de graça ver tudo o que gostaria!
Mas naquele momento as cosias não eram mais tão fáceis quanto há anos. Havia dependentes, casa, emprego, primeiras necessidades. Mas para tudo há planejamento e para o que não se pode planejar é possível contar com a Lei do Retorno.
Então, depois da mudança já vi em seis meses mais do que em 27 anos:



PRAIA DE GUARATUBA (essa faz anos)


INSTITUTO BUTANTà



CENTRO DE SÃO PAULO


 MUSEU DA CIÊNCIA - CATAVENTO



FACHADA DO CATAVENTO

 


A CANOA  SOBRE O EPTE - MONET


 SAN GENNARO DECOLATTO O SANT'AGAPITO - CARAVAGGIO


MEDUSA - CARAVAGGIO
 



BANCO DE PEDRA NO ASILO SAINT REMY - VICENT VAN GOGH


CONGESTIONAMENTO RÉGIS BITTENCOURT, PRÓXIMO AO MEU TRABALHO
 



SHOPPING EL DORADO


CINEMA 3D (O MAIS PRÓXIMO DA CIDADE EM QUE MORAVA ERA A 500KM)

sábado, 13 de outubro de 2012

Creuza, Mulher de Filomeno Fimino







Seu Firmino acabara de sair batendo a porta atrás de si. Creusa ficara inconformada com a falta de sensibilidade dele de perceber que ela precisava de um pouco de companhia.
Era toda a noite a mesma coisa, bem toda noite não, mas as que não ia ao bar jogar friperama ficava em casa no sofá peidando, pulando o canal da TV e reclamando do trabalho pesado para sustentar a casa a e mania de limpeza dela.
Se pelo menos ele, depois de encher o cú de cachaça com aqueles vagabundos que chama de amigos, chegasse em casa carinhoso. Ou se antes de sair desse um beijo sem gosto de pinga. Ou se pelo menos em um dos dias que fica em casa ao invés de peidar no sofá ficasse ao seu lado assistindo a novela.
De qualquer forma ela não sabe ao certo quando aconteceu, mas hoje em dia tanto a sua presença quanto sua ausência a sufocava. Imagina se algum dia existiria para ela o “felizes para sempre” como sempre havia na novela que ela assistia.
Há algum tempo, quando ele ganhou uma pequena bolada na tele-sena, isso mesmo, aquela do Silvio Santos (e sim, as pessoas ganham de verdade nisso), as coisas pareciam estar boas novamente. Fazia compras fartas em supermercados. Os vizinhos até comentavam os beijos barulhentos que ele e sua mulher davam em publico.
Mas como ele nunca ouvia seus conselhos sobre como investir o dinheiro ganho, acabou perdendo tudo em pouco tempo, e aí se entregou à cachaça e ao friperama. Parecia ser a única alegria que tinha.
Houve um período que ele até tinha comprado discos do Roberto e do Amado Batista e ouviam juntos, depois, quando o dinheiro se foi, os discos foram as primeiras coisas que ele se desfez.
Ela amargurada, não prestava atenção na filha de 15 anos que já tinha dado pra todos os homens do bairro. Nem que o menino de 19 anos andava meio alucinado com olhos vermelhos. Talvez preferisse ignorar e continuar assistindo novela na sua casa impecavelmente limpa.
As vezes parava para pensar, muito raramente, quando teria algum gosto na vida, porque tinha se dedicado em cozinhar, limpar, passar, cuidar do marido, dos filhos, e tinha esquecido de si. Percebia agora que como muitas famílias a sua era desestruturada e cada um tinha ido buscar em prazeres efêmeros e egoístas o consolo e ela tinha sobrado, sozinha, amargurada, incompreendida, com uma porta batida na cara, enquanto pedia para Firmino trocar a resistência do chuveiro.
Iria dormir sem tomar banho como protesto ao estado que sua alma estava.