Hoje, dia 28/11 é uma data que me remete a uma reflexão sobre a maior perda que tive. Não são todos os anos que lembro. Porque sou assim, perdida no tempo e espaço e para mim o que tem valor é como me sinto e não que dia é e o que ele deveria representar.
Então me sinto saudosa já faz algum tempo e, quando essa saudade parece que vai me sufocar é o momento de escrever.
Foi uma morte repentina, sem nenhum tipo de aviso prévio. Mal soube que naquela semana ele não estava se sentindo bem, não sei se isso aconteceu porque era egoísta demais para perceber que havia vida, e logo possível morte ao redor de mim, ou por ser nova demais não mereci créditos para saber o que acontecia na família. Isso não importa, mas incomoda e sempre vem à tona porque não percebi? Teria feito algo diferente?
Talvez a única coisa que tivesse feito diferente teria sido restituir ele de um chocolate que presenteei, ele não comeu e eu acabei comendo dividindo com uma amiga. A culpa dessa gula por vezes me faz pensar. Mas como conheci a essência da alma bondosa dele tenho certeza que não há importância, porque para ele o que tinha valor era o estado de paz que ele gostava de viver. Não permitia ficar aflito por nada e isso por crer que tudo provinha da bondade de Deus. Além de ter uma singular facilidade de deixar o passado no passado. Certamente esse fato não teve pra ele a importância que teve para mim.
Sinto saudade do olhar, jamais vi em outros olhos aquela paz. Sinto saudade da mão calejada do serviço pesado, do cheiro de óleo, da comida que fazia, do café, do tom de voz, dos “causos”, de como se sentia feliz com as coisas simples da vida. Se sentia feliz em poder descansar à sobra de uma árvore, tomar chimarrão, viajar, comer algumas coisas que gostava, gostava de picolé. Gostaria de saber qual era seu sabor favorito, gostaria de saber sua cor favorita. Gostaria, principalmente de compartilhar a mesma fé. Consigo sentir felicidade pura em coisas simples, mas não consigo sentir a mesma fé que ele tinha, e esse era o principal valor que queria nos passar.
Lembro que faz poucos meses que consegui acreditar que dinossauros existiram, mesmo com todos os achado arqueológicos, simplesmente porque um dia ele disse que isso era bobagem, dinossauros não existiram, se tivessem existido, certamente a Bíblia citaria, se não estava na Bíblia, não tinha existido. Então percebi que eu tinha nele a mesma fé que ele tinha na Bíblia. Se ele dissesse algo, para mim aquilo era verdade, total e absoluta. Infelizmente não consegui passar a mesma crença sem questionamentos para Bíblia. Porque sempre fui, desde a mais terna infância (minha irmã me conta) a teimosa, a difícil, isso porque pensava, questionava, duvidava, queria experimentar, e apenas ao meu pai eu respeitava de forma cega, totalmente confiante.
Talvez tenha pouco dele em mim, mas tudo o que tenho de valores, de ética, de moral, de caráter, tudo mesmo veio do exemplo do que meu pai foi. Como disse, não tenho a fé que ele tinha, mas me conformo em ter desenvolvido um estilo de vida simples, buscando estar feliz e bem hoje, com o que tenho hoje. Em dizer a cada despedida aos meus filhos que os amo, porque pode ser a última, não que deseje, é claro; pelo contrário, é uma ideia que me desespera, mas por vezes penso nela, porque a vida é efêmera e tudo o que temos é o agora. Quando eu partir quero ter a certeza que a última coisa que disse para as pessoas que amo foi o quanto as amo, e ter sentido delas a recíproca. Esse despreendimento, essa posição de que a vida é fugaz e foi me dada como presente, mas não me pertence totalmente porque não tenho controle, cabe à mim aceitar e ser feliz com o que tenho nela foi um aprendizado que ele me deixou. É necessário explicar que aceitar não é se conformar, o conformismo preguiçoso, onde se pára de sonhar e passa a viver sem perspectiva, não é isso. Mas também não quero me explicar muito.
Hoje quero sentir saudade, escrever por entre lágrimas palavras que não expressam na totalidade, mas amenizam a saudade. Palavras que não representam mais dor, porque consigo visualizar que apesar da pouca convivência ele deixou em mim marcas profundas e brilhantes.