segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Pudim de Queijo

   A vida é dura para uma mulher sozinha que não se enquadra nos padrões sociais. Carla teve que aprender a viver com sua solidão e encontrou meios de fazê-lo de forma produtiva. Porque se recusou veementemente frequentar bares com gente ignorante que conversa sobre novela. Hoje, quando Carla vai ao bar, ou é sozinha para tomar caipira de vinho que ela adora ou é com uma amiga contadora que até hoje não puxou conversa falando de trabalho, novela ou alguém...

   Esse anti social é bom e produtivo, é quando descobre seus talentos. E um dos talentos de Carla é cozinhar. Ela se perde em livros on line de receitas e busca mistura inéditas para experimentar sabores. Dessa vez Carla se entregou à delícia de cozinhar um pudim de queijo.
   É tudo delicioso porque começa com uma caminhada ao mercado. Depois a escolha lenta dos ingredientes, sem pressa, com todo o prazer, como se o que fosse cozinhar seria degustado, na verdade seria, por ela mesma, mas Carla adora compartilhar, então em sua mente criou alguém importante para cozinhar. Esqueceu-se completamente de observar as pessoas, se inseriu no seu mundo de uma maneira tão absoluta que não perceberia nenhuma tragédia eminente. É devido à esses momentos de reclusão que Carla leva a fama de orgulhosa, poderia ter passado por sua melhor amiga e não a teria visto.

   Em casa ela adora encenar como se tivesse em uma cozinha maravilhosa e toda equipada, resmunga porque esqueceu de comprar uma colher de pau nova e a que ganhou não é boa para cozinhar, deveria ser enfeite, algo inútil pra ela. Coloca a panela no fogo, abaixa porque tem que medir o leite, coloca o leite na panela, esquece de aumentar o fogo, dissolve o amido de milho, acrescenta e mexe vagarosamente, mede milimétricamente o açúcar, despeja observando a mudança na textura. Estranha a demora para iniciar a fervura, vai acrescentando o queijo lentamente, não porque a receita indica, mas porque Carla adora a magia da cozinha e perceber como a cada porção acrescentada altera levemente a textura e cor do leite, a fervura começa, Carla reclama internamente do fogão ruim e coloca na listra prioridade um fogão novo.

   Ela continua mexendo, mente vazia, dispersa em observar como o calor age sobre os ingredientes. Acha o máximo quando o queijo começa a derreter e formar fio no leite já engrossado. Sorri um sorriso de prazer incompartilhável, é preciso ser meio louco para sentir prazer em alterações tão insignificantes. Continua mexendo, sentindo o cheiro, ouvindo o ploc ploc da fervura, é algo fascinante estimular todos os sentidos ao mesmo tempo, quase todos, na verdade o paladar é acrescentado depois. Chega ao ponto desejado, desliga, vê que o fogo estava baixo, entende porque o fogão estava TÃO ruim, despeja como se tivesse despejando uma preciosidade em uma forma de pudim caramelizada, cobre com papel alumínio e coloca na geladeira. Antes disso ainda dá uma última olhada na textura e já sente saudade da experiência.
  
   Vai dormir, porque mais nada nesse dia poderia ser tão interessante quanto o prazer efêmero de cozinhar.
No outro dia levanta cedo, passa reto pelo banheiro e tira o papel alumínio para ver como ficou, tenta se conter e começar o dia decentemente, vai para sua higiene matinal ansiosa, ignora o protetor que passa todos os dias e volta para cozinha, vira o pudim num refratário e se delicia com a beleza dele, a cor do caramelo ficou perfeita. Experimenta lentamente e tem uma explosão de sensações inexplicáveis que ela tentou explicar. Trata-se de um sabor exótico para um paladar mais requintado, pensa que nesse mundo todo haveria apenas uma pessoa que ela conhece que gostaria de sentir o sabor, sente pela ausência e continua imersa nas sensações. Num primeiro momento é um doce comum que vem seguido de um leve azedo, com uma textura de coco ralado misturado com creme real. O doce e o azedo brigam pelo paladar, para chamar a atenção, parece que o pudim tem vida própria, aliás vidas próprias. A cada colherada uma experiência, lá pela terceira Carla pensa estar preparada para o que vai sentir quando colocar a colher na boca, mas incontrolavelmente sente a peculiaridade do sabor. Definitivamente não é algo que se come conversando, é algo que se degusta sozinho porque certamente a reação do paladar de cada um será inédita e será uma experiência intransferível. Carla não soube dizer se era gostoso ou ruim, ainda agora a única definição que consegue é que vale à pena experimentar pelas sensações que a mistura inusitada causa, mas não é algo que se tem vontade de comer toda a semana.

  Certamente não é ruim, mas é algo tão inusitado que seria praticamente um pecado (para quem acredita em deus, claro) acostumar o paladar ao sabor e perder a sensação do novo, do desconhecido a cada colherada.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Poema

Um poema das antigas, encontrei sem data enquanto organizava meus papéis para mudança. Mas mesmo sendo antigo serve bem para representar a sociedade atual.


Sociedade




A necessidade de viver em sociedade
Nos obrigou a praticar a tolerância
Com a intolerância
Criamos o sofrimento

O medo de vivermos e não existir
De sermos esquecidos
Impulsiona a atitudes
Agindo, existimos
Agindo mal somos inesquecíveis
Agindo bem podemos ser lembrados

Injustiça
A sociedade é humana
Como tal, injusta
Sofre mais com o mal
Sente menos prazer como bem
O sofrimento é inesquecível
Dói, sangra
O prazer é passageiro
Insaciável

A sociedade concilia
Bem e Mal
Torna-se inesquecível
Podendo ser lembrada. 

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Religião

Não sei porquê, ultimamente tenho visto a religião mais como um mal social do que a salvação da humanidade. Quem tem alguma religião pensa ser o dono da verdade absoluta e tenta por todo meio obrigar qualquer um que não tenha a se converter.

Falam de deus como única forma de salvação e vivem uma hipocrisia, decepções com a própria família e uma falta de paz, que por deus nenhum eu aceitaria na minha vida.

Não vivem o que Jesus prega, afinal ele pregava o amor indistintamente e dizia que não era possível um rico entrar no reino dos céus. Conheço muitos que se aproximam da religião só pelo crescimento financeiro que ela oferece. Depois de certa condição alcançada agiotam dinheiro a juros exorbitantes visando o maior lucro enquanto o próprio Jesus ensinou a ajudar o próximo. Pagam religiosamente o dízimo, mas sonegam impostos.

Conheço homofóbicos, enquanto Jesus manda dar a outra face ao inimigo, o que se faz para uma pessoa que nunca lhe fez mal???

Esses são alguns pequenos exemplos que lembro assim, de maneira repentina, mas o que me incomoda mesmo é essa pressão de ter que frequentar alguma igreja. Caralho, quero ter minha fé independente de vínculo religioso. Quero poder acreditar em Deus, no Caos, sem precisar me explicar ou ser pressionada a me explicar e ter que me posicionar. Quero acreditar que o amor inocente, incondicional que tenho dentro de mim e que adoro sentir seja deus, que a alegria que tenho em observar um luar seja presente de deus, que quando deito na grama, vejo o céu azul com nuvens brancas e me sinto criança pensando que seria legal se fossem algodão, é deus em mim. Que toda a inocencia tão criticada por pessoas mais racionais seja um presente de deus que me permite viver em sociedade, porque sem inocencia, certamente eu não teria razão. É tão claro e simples pra eu sentir deus, precisa religião???



Se for realmente necessário, posso escolher uma que me responda alguns questionamentos.

Se deus (cristão) é onisciente, por que criou Lúcifer? Por que permite provações se sabe que o ser humano não vai resistir? Por que diz que existe o livre arbítrio? Se Jesus morreu na cruz pelos meus pecados por que não posso pecar? Por que os evangélicos dizem que “quem não vem por amor, vem pela dor” se tem livre arbítrio? Posso não vir? Por que Jesus prega pobreza como estilo de vida e as igrejas (religiões) pregam prosperidade financeira? Por que Jeová tirou tudo de Jó para provar ao Lúcifer que ele era fiel? A riqueza vai lá, mas os filhos? Como foi que um casal de cada animal entrou na arca de Noé? Como é que eles alimentaram todos? O que fizeram com o cocô dessa bicharada? Como é que o pinguim, que vive no gelo ficou na mesma arca que o leão? Como alimentaram o leão e a leoa se só tinha um casal de cada animal? Só nessas parábolas eu faria milhões de perguntas...

Mas o que me intriga mesmo é a onisciencia. Criar Lúcifer? Não entendo a provação, porque havendo onisciencia não há o que provar, não há livre arbítrio, porque se não acredito sou condenada ao inferno. Como assim, senão acredito? Mas, o que comecei muito nova questionar e não ousaria exteriorizar devido ao grande respeito que tenho pela fé do meu pai.

Um esclarecimento: ainda tenho um amor, respeito e consideração por meu pai que não cabem em palavras, mas hoje tenho maturidade para respeitar e entender que posso crer diferente, porque como adulto amoroso, ele poderia não concordar com o que eu penso, certamente tentaria me converter, mas no fim deixaria por responder diante de Deus (em maiúsculo porque estou falando do Deus do meu pai, não desse que as religiões tem pregado e confundido e, só para concluir não lembro do meu pai frequentar assiduamente nenhuma religião).

Voltando, meu pai entra na história porque ele sempre dizia que na bíblia está escrito que nenhuma palavra pode ser tirada ou acrescentada, e que isso seria punido. Em que idioma foi escrito a bíblia? Em que tempo? Não lembro ao certo, mas cada livro foi escrito por um escritor? Qual a chance de ter sido encontrado todos os escritos? Qual a chance de todos esses escritos em língua antiga terem sido entendido, interpretado e traduzidos corretamente? Com a postura da igreja antiga, que não passava nada aos fiéis, qual a probabilidade de terem permitido que todos os livros fossem publicados? Será mesmo que todos foram encontrados e colocados na devida ordem? E, a que mais me intriga, com tradução para outros idiomas, como não perder nada em conteúdo? Simplesmente não consigo acreditar que a bíblia seja a palavra de deus integral e absoluta conforme é passado pelas religiões.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

TPM

Não queria que meu blog fosse um diário, mas tenho tido dificuldade de isentar minha vida pessoal dos meus textos mesmo tendo muito tempo livre para pensar neles. Então, mais um texto pessoal.
Aos que convivem, conviveram e conviverão comigo, muito obrigada pela compreensão nesses momentos e por favor, desculpem pelas lágrimas inexplicáveis.




Taí uma coisa que pensei não ter. Desde adolescente pensei ser uma mocinha especial, afinal não tinha TPM, um mal incompreendido que assolava as mulheres que conhecia e incomodava minhas amigas.
Só recentemente conversando com uma amiga fiz um flashback mental e concluí que sim, tive, tenho e provavelmente terei TPM.  Cada período da minha vida é diferente. Quando adolescente, sentia uma vontade genuína de ver sangue de quem me incomodava escorrer enquanto lentamente a vida esvaia. Jamais, em tempo algum, eu admitira ou teria coragem de citar nomes. Mas isso explica porque em épocas apenas por passar perto de alguém ficava endemonhada e acabava brigando sem explicações, mal conseguia fazer as pazes já vinha tormenta de novo.
Sobrevivi essa fase, embora não é essa minha maior preocupação, todas as pessoas que conviviam comigo sobreviveram essa fase. Depois comecei a tomar comprimido e os sintomas mudaram. Incrível como tem dias que me sinto capaz de dominar o mundo por estar apenas com esmalte vermelho nas unhas e um vestido. Incrível como no outro dia tenho a sensação de que o mundo virou de cabeça para baixo e eu estou totalmente deslocada, me sinto tão emotiva e compadecia que a morte prematura de uma barata é capaz de ocasionar um choro desconsolado.
Nem meus filhos escapam da choradeira, o Henrique coitado, por vezes lembra de um dia que fez um comentário e eu chorei umas duas horas a fio. Agora se ele quer dizer algo parecido com o que disse naquele dia diz com todo cuidado, reforçando que é apenas um comentário. Pensando bem isso é bom, é um homem que está aprendendo desde cedo como tratar e conviver com uma mulher. Hoje rio da situação, mas naquela ocasião parecia que um pedaço de mim tinha sido dilacerado por garras impiedosas. Esse drama todo, sim!
No meu trabalho uma resposta mais rude é motivo para lágrimas no banheiro. Se ligo para alguém que não atende no segundo, terceiro toque, certamente viu a identificação e não quer atender, mais lágrimas. Se penso na minha vida ela parece tragédia grega, lágrimas. Se lembro dos filhos que deixei na escola sinto uma saudade imensurável e não controlo o choro. Se não penso em nada o vazio da minha mente me apavora e choro de novo. Se um mosquito me pica, é pessoal e minha reação é chorar.
Assim passo uns três dias. Levo dois para lembrar que é TPM, aí o terceiro dia relaxo, choro mesmo, bem tranquila que não é fim do mundo, é TPM e está no fim. Algumas vezes ouço comentário: mas o comprimido não ameniza? Respondo entre lágrimas: e você acha que está vivo nesse instante por quê?






terça-feira, 3 de janeiro de 2012

O Amigo de Carla

Baixando um pouco o nível do blog, afinal somos humanos, e apesar de não falarmos abertamente sobre o cu com as pessoas que convivemos, todos temos e ficamos curiosos das possibilidades estranhas que existem pra ele.

Carla tem um amigo que teve problema no cu.
O coitado foi tão zoado que motivou um post.
Explicando o fato. Ele teve trombose anal poucos dias antes do natal. Segundo seu relato tudo começou com uma dor estranha lá, no fiofó, naquele lugarzinho que não pega sol. Lugar que Carla jamais pensou que pudesse doer. Como qualquer ser humano normal, constrangido com o sintoma se auto medicou para hemorroida. Se tinha hemorroida certamente melhorou, mas não era só isso e, ao ir defecar, além de dor teve sangramento. Resolveu pedir para sua mulher olhar, lógico que ela não sabia o que era e orientou procurar um médico. O especialista em cu estragado se chama proctologista. E, tão lógico quanto pode parecer, se consegue marcar consulta para o outro dia com esse especialista. Diagnosticado trombose anal, realizou um procedimento cirúrgico e seu cu ficou novinho em folha.
Mas esse tipo de coisa não passa despercebido pelos amigos, amigos, amigos mesmo dão muito apoio, vou citar as frases de apoio mais ouvida pelo amigo de Carla:
  • ansioso, virou o “anus” antes do dia 31/12;
  • agora estava com o cu apertadinho de novo para o parceiro;
  • vai ter disputa para brincar de trenzinho agora;
  • ficou mocinha!! (referindo-se ao sangramento).
Carla ouviu os comentários, rio meio sem graça porque imaginou que não poderia ter lugar pior no corpo para estragar do que o cu. Se perguntou que tipo de ser humano passa num vestibular para medicina, se forma, faz residência e depois se especializa em cuidar de cu. De qualquer forma ficou grata em isso existir, se compadeceu da situação de seu amigo e ficou receosa em debochar por medo do Caos, afinal ela também tem cu.