quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Monólogo de Carla com dor de cabeça

Carla voltou à vivência em uma experiência bem comum.







(Um bocejo). E tudo começa: Hummm, sono.... (outro bocejo) fora do normal, dormi cedo, a noite toda, levantei no horário normal, droga, vai dar dor de cabeça, tomara que não comece a ver estrelinha, porque aí fudeu. (Outro bocejo). Que será que comi que pudesse ter feito mal, não comi nada demais... Talvez chocolate ontem, mas aí deveria ter começado ontem mesmo. Talvez a janta, mas foi peixe, sem óleo e com legumes... Talvez os legumes, rsrsrsr, já que sou estranha, para todos linhaça solta o intestino, pra mim prende.... Precisava dormir, ao meio dia vou cochilar um pouco. Meu raciocínio está lento, não consigo processar as informações na velocidade normal... Vai doer muito. Vou tomar remédio já, mas qual? Humm, vou tomar um de cada. Deixa ver o que tenho na bolsa, um para o estômago, um para o fígado, um para dor de cabeça e um para dor em geral, se isso não me matar deve ajudar...
A dor começa: Como pode, mesmo tomando remédios a dor começar, já estou grogue, a língua meio travada, tomara que nenhum contribuinte pense que estou trabalhando bêbada. Que droga, mesmo com dor meu cérebro não para, está hiperativo. Esse é outro sintoma. A dor está ficando forte, preciso silenciar minha mente. Vou almoçar para o meu estômago não derreter com essa coisarada e tirar uma soneca ver se ajuda. Só consigo dormir se minha mente silenciar: cala boca, não quero te ouvir, para de pensar. Mas como não fica quieta vou pensar em algo silencioso. Origami,vou dobrar mentalmente origamis......
(Um sobressalto) Opa onde estou?? Perdi a hora?? Ai minha cabeça.... Ahhhhhhh, não, é meio dia, estou com dor, cochilei e essa droga não passou. Quero ir embora, tomar um banho. Já é hora de voltar a trabalhar.
Quatro horas mais tarde: se chegar em casa viva vou tomar um banho de duas horas. Vou sair mais cedo, pegar a circular, não vou conseguir ir caminhando.  Não vou melhorar nunca se não parar de pensar. Também, cada passo parece uma martelada, fora o calor está infernal, já comecei com ânsia. Preciso chegar logo no terminal para sentar, tomara que não vomite no caminho, pelo menos tenho sacola na bolsa. Preciso parar de pensar. Desliga ou delisga, como diz a Amanda. Que saudade deles, mas ainda bem que estão passeando, não conseguiria cuidar decentemente deles... Não consigo compreender a existência de deus, pelo menos não do deus cristão dos milagres que protege as inocentes crianças, porque nunca ele sequer amenizou minhas dores quando rolava no chão da sala implorando para passar ou para morrer. Sempre tive muita fé, mas não conseguia entender que justiça havia em eu ter dor de cabeça. Talvez fosse porque assistia novelas escondido do pai, o quê, para ele, era pecado. Mas não era só quando assistia novela que doía minha cabeça... Deveria ser porque sempre fui teimosa e fazia Jesus chorar... Para de pensar Jaque. Pelo menos agora sei que é tudo consequência de algum ato passado, melhor nem saber, só pagar minha dívida. Quase chegando... Precisava limpar, lavar a calçada, a louça, roupa. Que ânsia, acho q não vai dar.
Quanta poeira, não vou nem olhar, se me sentir melhor amanhã dou um jeito, tomara que não chegue visita, vou pegar toalha limpa, a água está uma delícia, vou ficar horas, embora que não deveria, a conta de luz vai vir exorbitante, e o meio ambiente.... Não gosto de desperdiçar água, limpinha indo pro ralo.... Melhor sair. (Desliga o chuveiro) Não precisava começar latejar tão rápido. Vou voltar mais um pouco, a natureza que me perdoe.... Devo estar louca mesmo, deve ser excesso de remédio, melhor me controlar, se me matar só vão me achar quinta a noite. Preciso sair do banho. Secar direito os dedos do pé, acabei ficando com frieira por causa dos intermináveis banhos durante a madrugada na última crise... Que ânsia. Preciso desligar minha mente, não vai melhorar enquanto estiver agitada, vou deitar de pijama, porque se qualquer coisa acontecer ninguém vai me encontrar nua. Credo... Origami, origami, origami, dobrar com cuidado, paciência, silenciar a mente... dormir... acho que o outro remédio....

sábado, 17 de dezembro de 2011

Arriscar



Por que quando a gente decide arriscar a mente esvazia? Por que justamente no momento que deveria me sentir mais vivam minha mente se cala? Por que quando decido viver pela emoção é a razão que toma conta de todo meu pensamento? Inclusive Carla adormeceu e perdeu a hora para suas aventuras.
Sair da zona de conforto e da segurança que tão trabalhosamente conquistei, ao invés de me tornar romantizada me tornou racional. Sinto frio na barriga, aquela sensação gostosa de quando se vai fazer algo inédito e automaticamente meu cérebro processa que é preciso manter o planejamento à risca de modo a minimizar o risco de erros e falhas. Nem parece que estou falando de um sentimento romântico, que muitos jamais sentirão, outros mesmo que sintam não tem coragem para deixar crescer.




E só em mim que sentimento e razão conseguem existir assim: quando vivo a razão o sentimento toma conta da mente, quando vivo o amor a lógica domina todo o processo cerebral. Estranha loucura inconstante que vivo e se não fosse assim, certamente não me reconheceria. Mas que é esquisito, é!


segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Dois Sóis


Adoro esse poema, já leio ele há mais ou menos dez anos e ainda fico impressionada com  o amor que ele transmite.
 
Dois Sóis


Hoje eu contemplei o crepúsculo,
E a tristeza que a muito habitava meu coração
Foi-se embora sem rumo.

Vejo os últimos raios de um sol brilhar e
Lembro-me de uma voz que me aquece tão igual a ele,
Uma voz que me reincida a amar.

Mas a quem pertence essa voz tão especial?
Quem é essa pessoa que ao olhar do pôr-do-sol,
Me permite fazer uma comparação de beleza natural?

Ah, sol que resplandece sobre meu semblante,
Penetre em meus olhos e procure em meu âmago
A resposta para essa pergunta angustiante.

Por que sinto tanto a falta dela?
Eu nem mesmo me refleti
Perante o espelho de tal alma e vice-versa.

E o meu conhecimento sobre seu corpo em si,
É tão pobre quanto ao conhecimento dos homens
Sobre os planetas em volta de ti.

Ah, meu amigo de brilho secular,
Vejo-lhe agora no horizonte apenas em meio,
Mas espere um pouco mais para que outras comparações eu possa lhe falar.

Assim como seu corpo o dela nunca foi explorado ou violado
A nem um homem da Terra foi permitido tal privilégio
Só um ser divino pode tocá-la, (e ela ainda o espera) um ser de asas prateadas.

Portadora de uma voz que transborda palavras radiantes,
É capaz de, com as suas poesias,
Ascender me mim brasas flamejantes

Agora posso perceber que sobre o meu mundo
Não paira um, mas dois sóis
Cujo o segundo eu ainda não consegui saber da onde é oriundo


Vejam só, a estrela mais brilhante sumindo ao céu,
E as cores do infinito vão mudando de azul e branco,
Para os embriagantes tons pastel

Vá meu amigo e aqueça outra multidão,
E me deixe agora a contemplar as estrelas e sonhar com essa voz doce
Que mesmo estando tão longe como ti aquece meu corpo e o meu coração.

Leve com você, estrela rei, esses segredos então.
E assim como o segundo sol, agora minha estrela rainha,
Deixe-me aqui viver na solidão.

Davi M. Mello.


 

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Perdida




Estou me tornando rabugenta e isso me assusta.
Toda essa minha metamorfose me amedronta, mal consigo me adaptar e gostar do meu eu, já vem a lagarta querendo virar borboleta novamente. Dessa vez a lagarta não se tornou uma linda borboleta de vida efêmera com cores brilhantes que apaixonam. Dessa vez se tornou uma mariposa, algo meio cinza, sem muita alegria, que mais assusta do que apaixona. Mas mesmo a mariposa tem seu valor, e é isso que estou buscando agora. Encontrar meu sentido, meu valor como mariposa, antes de uma nova fase chegar.
Não gostei muito de estar sem cores, sem vivacidade, sem toda a expansividade, sem muitas palavras, sem tumultos, mais ouvinte, menos falante, optando por um olhar ao invés de palavras. Me desconheço. Me desconheço ficando incomodada com perguntas de idosos sobre onde as crianças estudam quando estamos na lotação. Me desconheço incomodada com conversas superficiais, queria algo que pudesse me levar a uma reflexão para me tornar melhor. Onde encontrar conversas assim no dia-a-dia corrido?? Então opto pelo silêncio.
Todo esse inédito ser assusta as pessoas que convivem comigo, que não entendem minha essência de mudança. Que uma pessoa de encontros e desencontros em mim. Explicar é impossível e entender é desnecessário, aceitar é o que eu gostaria das pessoas que amo, mas elas insistem em questionar o que há de errado em mim. Não há nada de errado em mim, eu que sou assim, toda errada.
Embora que nada disso é realmente novo, porque eu não sei quem na verdade sou, e isso já perdura 27 anos, a novidade é apenas em como estou perdida. Às vezes estou perdida pensando ter me encontrado, às vezes estou perdida desesperada por me encontrar, às vezes estou perdida, mas perdida mesmo, sem rumo nenhum ou, como agora, que estou perdida, ciente de estar perdida, apenas porque meu corpo está num lugar e meu coração em outro.