terça-feira, 18 de outubro de 2011

Carla e o Espírito




Um dia Carla morreu e descobriu que se continua viva!
Quando criança Carla era muito arteira, num dia de sol sua família foi passear num parque, com um almoço gostoso e companhias legais (puro clichê de família do interior). As crianças foram tomar banho de açude, uma delícia, as maiorzinhas com a responsabilidade de cuidar das menores, algo que nem sempre funciona bem. E aí que começa uma das lembranças mais fortes da infância de Carla. Seu contato íntimo com a morte e sua volta para esse mundo.
Estavam todas as crianças brincando no açude, as maiores no fundo, as menores na beira, uma garota de tamanho mediano começou a brincar, chamando as menores, contanto que colocava um pé mais no fundo e voltava rápido para o raso, sem se afogar. Carla que é experimentalista em sua essência foi a primeira (talvez a única) das crianças menores a tentar a façanha.  Como era de se esperar não deu certo, as primeiras tentativas foram um sucesso, a sensação de poder, de dominar a água, afundar até quase o nariz e voltar antes de se afogar era incrível, mas isso até o pé de Carla ficar preso no barro no fundo, ela desequilibrar e cair. Depois disso o tempo para Carla mudou e o mundo se tornou só ela e a água.
Engoliu golões de água enquanto afundava, pensou em trancar a respiração, com isso o corpo começou a subir, quando tocou a superfície ela pensou que poderia respirar, inspirou com vontade, mas foi interrompida pela água novamente, rapidamente raciocinou que deveria tentar respirar na superfície enquanto seu corpo afundava lentamente, logo voltou a subir, esse processo se repetiu algumas vezes, quando finalmente Carla foi tragada pela água. Sentiu-se leve, o tempo parou e em meio a água turva começou a passar cenas dos momentos felizes. Foi rápido, Carla quis desfrutar das cenas por mais tempo, mas elas passavam rapidamente diante de si, não era possível degustá-las.
Em seguida, Carla viu seu corpo pequeno ser tirado da água por um dos adultos presentes, enquanto ele saia do açude Carla, que ficou flutuando de pé, viu seu corpinho ser carregado, desacordado, sua cabecinha com os cabelos pingando água e que o adulto que a carregava estava com uma calça jeans e com a carteira fazendo volume no bolso. O último pensamento que Carla lembra foi que o quer que tivesse acontecido, que tivesse motivado esse adulto vestido, com carteira no bolso entrar no açude para tirar ela era algo grave e provavelmente levaria a surra da sua vida.
Se levou a surra ou não, Carla não sabe. Sabe apenas que depois dessa data não houve mais esse tipo de passeio e todas as vezes que voltou a se banhar em açude foi escondida. E só ela sabe que tem uma ligação íntima com o outro lado da espiritualidade.


quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Eu já tive uma experiência de bunda.


A lotação é um local apaixonante onde se consegue muitas histórias.
Esperando ela no terminal estava em pé, distraída. A circular chegou, quando ergui meus olhos dei de cara com uma bunda. Não acreditei, pensei que era uma metáfora, sei lá, qualquer coisa. Olhei bem, era uma bunda mesmo. Não um cofrinho, uma bunda inteira. Se o cara se mexesse perderia a calça. Uma bunda, branca e peluda. Praticamente vi o cú do cara.
Tentei pensar e tirar a expressão de espanto da cara, mas o cara insistiu, levantou novamente para abrir a janela do outro lado do corredor. Pude ver a bunda por outro ângulo.
Meu cérebro que processa muitas perguntas ao mesmo tempo começou a refletir, sem me permitir tirar os olhos da bunda. Quando foi que em minha vida tive um cú tão perto da minha cara em plena luz do dia??? Não sei se alguma vez, mas em público, nunca. Nesse momento tomei consciência que haviam pessoas ao redor, olhei para ver se alguém tinha percebido minha hipnose, mas foi com alívio que percebi que todos tinham os olhos fixos na bunda e os queixos caídos. Tivemos uma experiência de choque coletivo. Cada um deve ter percebido, reagido e pensado de uma maneira única, mas ninguém ficou apático.
Fiquei então instigada a saber o que passou pela cabeça dos outros, imagino que histórias engraçadas surgiriam.

Ps.: sem imagem por motivos óbvios!