sábado, 13 de outubro de 2012

Creuza, Mulher de Filomeno Fimino







Seu Firmino acabara de sair batendo a porta atrás de si. Creusa ficara inconformada com a falta de sensibilidade dele de perceber que ela precisava de um pouco de companhia.
Era toda a noite a mesma coisa, bem toda noite não, mas as que não ia ao bar jogar friperama ficava em casa no sofá peidando, pulando o canal da TV e reclamando do trabalho pesado para sustentar a casa a e mania de limpeza dela.
Se pelo menos ele, depois de encher o cú de cachaça com aqueles vagabundos que chama de amigos, chegasse em casa carinhoso. Ou se antes de sair desse um beijo sem gosto de pinga. Ou se pelo menos em um dos dias que fica em casa ao invés de peidar no sofá ficasse ao seu lado assistindo a novela.
De qualquer forma ela não sabe ao certo quando aconteceu, mas hoje em dia tanto a sua presença quanto sua ausência a sufocava. Imagina se algum dia existiria para ela o “felizes para sempre” como sempre havia na novela que ela assistia.
Há algum tempo, quando ele ganhou uma pequena bolada na tele-sena, isso mesmo, aquela do Silvio Santos (e sim, as pessoas ganham de verdade nisso), as coisas pareciam estar boas novamente. Fazia compras fartas em supermercados. Os vizinhos até comentavam os beijos barulhentos que ele e sua mulher davam em publico.
Mas como ele nunca ouvia seus conselhos sobre como investir o dinheiro ganho, acabou perdendo tudo em pouco tempo, e aí se entregou à cachaça e ao friperama. Parecia ser a única alegria que tinha.
Houve um período que ele até tinha comprado discos do Roberto e do Amado Batista e ouviam juntos, depois, quando o dinheiro se foi, os discos foram as primeiras coisas que ele se desfez.
Ela amargurada, não prestava atenção na filha de 15 anos que já tinha dado pra todos os homens do bairro. Nem que o menino de 19 anos andava meio alucinado com olhos vermelhos. Talvez preferisse ignorar e continuar assistindo novela na sua casa impecavelmente limpa.
As vezes parava para pensar, muito raramente, quando teria algum gosto na vida, porque tinha se dedicado em cozinhar, limpar, passar, cuidar do marido, dos filhos, e tinha esquecido de si. Percebia agora que como muitas famílias a sua era desestruturada e cada um tinha ido buscar em prazeres efêmeros e egoístas o consolo e ela tinha sobrado, sozinha, amargurada, incompreendida, com uma porta batida na cara, enquanto pedia para Firmino trocar a resistência do chuveiro.
Iria dormir sem tomar banho como protesto ao estado que sua alma estava.

4 comentários:

  1. Que pena que a maioria das pessoas nao falam pra outra o que esta realmente acontecendo, fica só querendo, o diálogo resolveria o problema que ambos criaram...

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  2. Hey, voltei por aqui..
    gostei muito desse texto. (:

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  3. http://umadosedeloucurapuraesemgeloporfavor.blogspot.com.br/

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  4. Queria ler mais dessa história da Creusa e do Firmino hehehe Muito bom Jaque!

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